Páginas

domingo, janeiro 03, 2010

Associação reclama mais apoio para doentes autistas

APPDAespera começar em breve a obra da residência autónoma, mas precisa mesmo é de um lar

A Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA) de Coimbra, quer pôr a funcionar no próximo ano uma residência autónoma para cinco pessoas com autismo. O imóvel em Cruz de Morouços, Santa Clara, foi adquirido pela associação e o projecto de remodelação foi já aprovado no âmbito do Quadro de Referencia Estratégico Nacional (QREN).

A resposta será fundamental para jovens e adultos que estudam ou trabalham, mas que precisam de residir num local mais protegido e organizado de acordo com o seu problema, explica Elsa Vieira, presidente da associação.
«Estamos apenas a aguardar a verba para avançar com a obra, esperamos ter algumas novidades já no início do ano. Também precisamos de angariar os 60 mil euros de verba que cabem à própria instituição», diz a responsável ao Diário de Coimbra, sublinhando que a pequena casa vai ser adaptada para cumprir todas as normas legais de uma residência autónoma.

Os futuros residentes já estão sinalizados. «São jovens e adultos com Síndroma de Asperger ou autismo que têm a sua ocupação, estudam, trabalham ou frequentam formação, necessitando de algum apoio e tutoria na ausência de familiares», refere Elsa Vieira, sublinhando o alívio que é para os pais que estão longe.
A APPDA quer ter esta residência a funcionar até ao final do ano de 2010, mas não esquece aquela que é a mais grave carência da região Centro: um lar residencial para grandes incapacitados, a quem pais e familiares esgotados possam confiar a vigilância e o apoio dos seus filhos com autismo.

A estrutura de lar é uma ambição antiga, foi já projectada para um terreno em Travanca do Mondego (Penacova), recebeu aprovação em termos técnicos e financeiros, mas não chegou a obter dotação de verba comunitária. E, por um lado, ainda bem. «A candidatura foi feita há cerca de três anos e o investimento rondava o milhão de euros. Teríamos de assumir 300 mil euros (30 por cento do total) mas não saberíamos como angariá-los, é uma verba muito avultada, que não se consegue com rifas nem com vendas de cabazes», lamenta a presidente da APPDA.

“Financiamento devia ser total”…

Obter apoios junto da sociedade civil para causas como a da APPDA é cada vez mais difícil. «A comunidade está já cansada de tanto peditório», admite Elsa Vieira, considerando que devia caber ao Governo e entidades oficiais esse papel. «A formação, por exemplo, é financiada a 100 por cento, porque não financiar os equipamentos residenciais para deficientes profundos também na totalidade», questiona.
Ao contrário de Lisboa e Porto, a região Centro não possui qualquer lar especificamente destinado a autistas. «Alguns estão com as famílias e outros em instituições que os apoiam como podem, mas que não estão vocacionadas para o autismo».

De acordo com a responsável, um lar para autistas com grande incapacidade deve ser equipado de forma especial e ter profissionais formados para lidar com esta perturbação do desenvolvimento. «Os autistas podem ter comportamentos de alguma agressividade, as actividades de relaxamento devem ser privilegiadas, todo o dia-a-dia deve ser programado, o ambiente não pode ter muita gente nem grande agitação, para não gerar stress. É muito complexo o tratamento destes adultos», explica.

Associação acompanha 300 casos na região…

APPDA de Coimbra tem na sua base de dados 300 casos de autismo. Elsa Vieira diz que a taxa portuguesa não difere muito das verificadas noutros países, nomeadamente da Europa, estimando--se que uma por cada mil crianças nasça com autismo. Com sede na Rua Padre António Vieira, a associação tem apostado na formação, que desenvolve nas instalações do Casal da Misarela (Torres do Mondego). Numa antiga escola primária, cedida pela Câmara Municipal, a APPDA colocou um centro de actividades ocupacionais, um ATL e um centro de formação, que recebe autistas e não só.
«O centro de formação está aberto a pessoas com algum tipo de incapacidade. Vamos retomar agora em Janeiro um curso de electricidade que possibilita a obtenção de uma qualificação profissional», adianta Elsa Vieira.

Estudos internacionais apontam para a existência de 10 pessoas com autismo e 2,5 com síndroma de Asperger em cada 10 mil, ainda que na mesma população se estime existir 30 pessoas com perturbações globais do desenvolvimento no quadro do autismo. Em Portugal, estes números são bastante semelhantes, de acordo com estudos coordenados por especialistas do Hospital Pediátrico de Coimbra. Existem mais rapazes do que raparigas com autismo - numa proporção de 4 a 5 rapazes por cada rapariga - e investigação recente aponta para um aumento da incidência destas doenças.

Sem comentários:

Enviar um comentário