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segunda-feira, dezembro 14, 2009

O estranho caso do inesperado bestseller da década

O livro sobre um miúdo autista vendeu mais de dois milhões de cópias no Reino Unido. Só Dan Brown o ultrapassou…

mark warhol 

Einstein, Mozart, Sócrates, Stanley Kubrik e Andy Warhol, além de geniais, tinham outra coisa em comum: todos sofriam da síndrome de Asperger, uma forma de autismo que afecta a interacção social. Christopher Boone, personagem principal do livro "O Estranho Caso do Cão Morto", também sofre desta doença. O rapaz de 15 anos sabe de cor todos os países e cidades do mundo, conta os números primos até 7507, detesta amarelo e castanho e não consegue relacionar-se com pessoas.

Quando encontra o caniche da vizinha morto no jardim, Christopher, inspirado pelo seu herói Sherlock Holmes, decide investigar o crime e escrever um livro. O resultado é "O Estranho Caso do Cão Morto", o terceiro livro mais vendido da década no Reino Unido, só ultrapassado pelos bestsellers "O Código Da Vinci" e "Anjos e Demónios", de Dan Brown.

O autor, Mark Haddon, de 47 anos, conseguiu a proeza de entrar na cabeça de um miúdo autista e pôr leitores em todo o mundo a rir e a chorar com a sua visão da vida. Mark admitiu numa entrevista ao site da cadeia de livrarias Powell's Books ter-se inspirado na sua experiência de trabalho com autistas e na imagem de um caniche morto no jardim com uma forquilha. Tal como o protagonista, o livro, publicado em 2003, é invulgar: os capítulos são todos números primos, daí que comecem no dois e acabem no 233. A escrita é simples, com gráficos e desenhos, como se o protagonista Christopher escrevesse um trabalho para a escola. E talvez seja esse o segredo do sucesso do livro que em Portugal já vai na sétima edição.

"Os editores foram espertos e fizeram duas capas e sobrecapas diferentes: uma para adultos e outra para os mais novos", explicou Roger Katz, gerente da Hatchards, a livraria mais antiga do Reino Unido, ao jornal "The Sunday Times". A decisão de bater à porta de duas editoras surpreendeu até o próprio autor, que também é argumentista e ilustrador. Depois de escrever e ilustrar uma dúzia de livros para crianças e de ganhar dois prémios BAFTA com a sitcom infantil "Microsoap", Mark queria chegar a um público mais velho. "Quando acabei o livro, entreguei-o à minha agente e ela disse-me logo: 'Vamos tentar com duas editoras, uma de adultos e outra de crianças, e ver o que acontece.'", contou em 2003 à Powell's Books. Parece que resultou. "Tornou-se um daqueles sucessos que vão de boca em boca, como "O Capitão Corelli" [de Louis de Bernières] e "Birdsong" [de Sebastian Falks]", comenta o gerente da livraria Hatchards.

Segundo o ranking publicado no "The Sunday Times", o "Estranho Caso do Cão Morto" vendeu 2 milhões de cópias e é o único livro que faz frente ao estrondoso sucesso do escritor Dan Brown. A liderar o top de vendas da década estão "O Código Da Vinci", com mais de 5 milhões de exemplares vendidos, e "Anjos e Demónios", com mais de 3 milhões de cópias. O quarto e quinto lugares do ranking estão também ocupados por livros de Dan Brown: "A Conspiração" e "Fortaleza Digital", o primeiro que o norte-americano publicou, em 1998.

J.K. Rowling monopoliza o top de livros para crianças: sete lugares ocupados pelos sete livros da saga Harry Potter. O último livro, "Harry Potter e os Talismãs da Morte", publicado em 2007, foi o mais vendido no Reino Unido: 4 369 994 cópias. Seguem-se o quinto e o sexto volume da saga: "A Ordem da Fénix", e "O Príncipe Misterioso".

Entre os bestsellers da década, "O Estranho Caso do Cão Morto", vencedor do prémio literário Whitbread, em 2003, é o único que ainda não viu uma adaptação cinematográfica.

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